sexta-feira, 4 de maio de 2018

Os Riscos do Top Rope com Folga na Segurança



Foto: Simon Carter. (Rock and Ice)
Escalar em top rope é seguro, certo?

Algumas pessoas tem bastante dificuldade para guiar uma escalada, pois a tensão e insegurança de uma queda está sempre presente e acaba atrapalhando seu desempenho. Assim, alguns escaladores se prendem na segurança do top rope que, sem o risco de queda, é diversão garantida, certo? Mas será que é tão seguro assim?

Algum tempo atrás um grampo P de 3/8” em aço inox de uma parada se rompeu enquanto escalavam-se uma via em top rope na Pedreira do Jd. Garcia. Na ocasião relataram que a corda passava diretamente pelos grampos sem montar uma equalização. Proteções de paradas não costumam falhar, ou nunca devem falhar e, quando falham, normalmente foi erro humano: nesse caso pode ter sido a fabricação “caseira” do grampo, junto com o top rope sem equalização.

Na maioria dos casos os escaladores não entendem as cargas que são geradas no tope rope, considerando por lógica que as proteções suportam pelo menos nosso peso corporal. Porém, isso não é totalmente verdadeiro. Já pensou nas forças que são geradas em um tope rope?

Algumas publicações especializadas fazem testes para mensurar as forças que são geradas em uma queda numa escalada. A Rock and Ice (publicação de 24/05/2017) fez um teste para mostrar as forças máximas geradas num tope rope. Em um dos testes, um escalador de 90 kg caiu perto da ancoragem, num sistema estilo polia, como normalmente usamos. Numa segunda série de testes com a mesma configuração de top rope, o mesmo escalador caiu com uma folga de 1,80 metros de corda (um cenário comum quando o parceiro se distrai por um momento). Ambos os testes foram realizados com aproximadamente 11 metros de corda entre o escalador e o segurança, numa segurança praticamente estática. (foi usado um dispositivo de segurança preso diretamente a um grampo de segurança - certamente não é um uso recomendado do dispositivo, nem um bom estilo de segurança porque ele não permite a absorção dinâmica de carga no deslocamento do segurança, mas foi o que permitiu remover a maioria das variáveis ​​do configuração de segurança.)



Os Resultados

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Ilustração de Jeremy Collins (Rock and Ice).
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Primeira Série: Uma equalização normal tipo polia, queda praticamente sem nenhuma folga na corda.
As forças foram medidas nas equalizações.
Queda 1: 362,87 kg carga na ancoragem.
Queda 2: 340,19 kg carga na ancoragem.
Queda 3: 317,52 kg carga na ancoragem.
Segunda Série (mais distraída): Os  mesmos detalhes da primeira série, mas com 1,8 m de folga na corda.
Queda 1: 589,67 kg de carga na ancoragem.
Queda 2: 703,07 kg de carga na ancoragem.
Queda 3: 603,38 kg de carga na ancoragem.

Lições Aprendidas
Os dados apontados nos chamam a atenção para o cuidado que temos que ter na hora que estamos fazendo a segurança em  top rope. Uma "barriguinha pequena" na corda não vai fazer diferença nas forças que são geradas nas proteções durante uma queda, contudo, aquela "barriguinha de chopp" de 1,8 metros que criou naquele momento que você ficou vendo o passarinho verde, é muito relevante.
Essa folga maior na corda pode duplicar a carga de impacto nas ancoragens, e nem sempre sabemos qual é a qualidade destas proteções. É importante também lembrar que devemos considerar o peso do parceiro que está fazendo a segurança, uma vez que, em um sistema em V invertido, onde os dois escaladores partem do chão (mais comum nos points de escalada) ambos estarão pendurados nas proteções. 
Daí a importância de montar uma boa equalização, de forma que as forças geradas sejam divididas igualmente nas duas proteções e, claro que equalizar com apenas duas costuras (muito comum entre os escaladores de esportivas), só terá o efeito correto se ambas proteções estiverem na mesma altura, as costuras forem exatamente iguais e a corda estando sempre numa mesma linha... Fatores perfeitos sempre comuns de encontrar, né?
Claro que no mundo real, nem sempre temos o dobro das cargas sendo geradas, pois temos o atrito da corda, a elasticidade  da mesma e, num sistema de polias, o segurança é puxado para cima quando o escalador cai. Mas, mesmo assim, em média a carga gerada nas ancoragens é de 1,6 vezes o peso do escalador, um número ainda relevante.
Assim, podemos tirar algumas conclusões quanto a segurança em top rope:

1º - Nunca suba se a proteção não for a prova de bomba, se a parada não for confiável tente acrescentar um back up;
2º - Evite aquela “barriguinha” na corda, deixe justo, mas sem que atrapalhe o escalador;
3º - Se tiver dúvida da qualidade das proteções, não desça de baldinho, faça um rapel. Lembre-se que no sistema de polia além das forças há o peso de quem faz a segurança e aqueles pequeno trancos que são dados estão forçando o sistema;
4º - Em paradas com proteções móveis, sempre capriche em uma equalização que garanta, se não todas, a maior parte da movimentação das direções de cada peça e mantenha a corda sempre retesada (Como montar equalizações a prova de bomba com proteções móveis é legal ver na prática em curso).
Escalar em top rope até então era uma coisa simples e relaxante, mas depois de tudo isso que coloquei aqui pode ter mudado de figura.
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